Schlûss, ou Um Ritual de Sangue

Mallimma estava fervendo em um caldeirão uma substância esverdeada, formada por uma mistura de plantas, infusões e temperos de vários tipos diferentes. A mistura borbulhava incessantemente, como se tomasse vida. O caldeirão negro sobre a lareira destoava do resto do quarto, repleto de cores e cheio de vida. Ela sabia que àquela mistura era necessário haver um componente com essência vital para concluir feitiço.

A princesa pegou um punhado de terra de floresta que havia conseguido com seu irmão e lançou no caldeirão, fazendo a chama abaixo dele tomar uma coloração verde brilhante e se elevar até a altura da boca do caldeirão, fazendo Mallimma se afastar e cobrir o rosto como reflexo.

A princesa, que usava apenas um fino vestido de pijama, se despiu completamente, deixando o vestido cair no chão próximo a lareira. Com sua faca, ela retira um punhado de pelos íntimos, que lança no caldeirão, e em seguida abre um pequeno corte no dedo indicador, pelo qual deixa escorrer uma linha espessa e escura de sangue. Ela estende seu dedo em direção ao caldeirão, e uma gota escura se forma na sua ponta.

A gota moveu-se em queda livre e, ao enfim tocar o caldeirão, fez com que toda a mistura ficasse imediatamente escura como a noite sem estrelas, como o fundo de um poço profundo, e que o líquido agora espesso e escuro se agitava e vibrava. A gosma escura deslizou para fora do caldeirão e seguia em direção à porta do quarto, mas a princesa foi mais rápida. Ela pegou um boneco de pano que ela mesma costurou e que deixava debaixo da cama, mas que não tinha nenhuma espuma por dentro. A gosma imediatamente desiste de sair e entra no boneco sem pensar duas vezes. Estava completo.

A criatura misteriosa estava aprendendo a se mover dentro do boneco. Foi engatinhando até a princesa, olhando-a calmamente com seus frios olhos de botão. A linha que formava a sua boca desapareceu, e no seu lugar surgiu uma mancha negra que subitamente se abriu, revelando uma espécie de língua, oleosa e larga. É como se a boca de mentira tivesse se tornado em uma boca de verdade. Da sua boca passou a escorrer o líquido escuro e espesso que vinha da sua boca, daquilo que lhe dava forma.

A princesa o aguardava pacientemente. O boneco lambeu suas pernas e seus pés por um bom tempo, depois suas coxas, até chegar nas suas partes mais sagradas. Se ateve por ali por um bom tempo, como um cachorro que lambe a mão do seu dono. A princesa não se importava com o material oleoso entre suas pernas, usufruindo do momento de carinho. Vez ou outra, surgia de seus nobres lábios um ou outro gemido de satisfação, ou até mesmo um suspiro tímido. De seu interior, vertiam algumas gotas de um líquido rosado, de sabor doce, que o boneco lambia vorazmente. Aparentemente aquele líquido dava ao boneco uma sensação confortável, de estar se alimentando e se revigorando.

O boneco mantinha suas pequenas mãos sobre as coxas da princesa, que gemia e suspirava, enquanto ele se alimentava. Em certo ponto, foi tão vigoroso ao ponto de fazer a moça estremecer e estirar-se no chão. O boneco não compreendia por completo, e se aproximava para ver se a princesa estava bem. Ela o achava amável. Mallimma lhe pediu para que se aproximasse, ele a lambeu no rosto e ele se deitou sobre ela.

Algum tempo depois, Mallimma achou importante dar um nome para sua criatura. Depois de pensar bastante, enquanto ele acariciava as costas da mão da moça com seu rosto, a princesa decidiu chamá-lo de "Maymo", por achar que ele combinaria com o nome.