sábado, 18 de janeiro de 2025

Noites em Chamas (I) ~ Príncipe Sahar Waqeras, do reino de Awaq

O reino de Awaq era próspero apesar de tudo. Suas conquistas garantiram, para além dos territórios próximos ao abençoado rio Waq, as terras dos reinos de Mágrabas, de Skodyk e de Cravoin.

O povo awaquense era famoso por seu gosto por ouro e por sua devoção aos diversos deuses. Eram calorosos, sedutores e enérgicos. Gostavam das músicas, das danças, das festas e das comidas.

Não eram avessos a adotar costumes dos povos dominados, sendo desse modo bastante receptivos. Viam outras divindades como outros filhos de Usehewa, a deusa das águas celestiais de muitos filhos que teria, supostamente, gerado todos os seres divinos. Os magrabenses de Awaq vêem nela a santa Amallysa, mãe do seu profeta, os cravoinenses vêem Skirtye-Nittye, a deusa ursa sagrada que protege o seu povo do mal e das trevas, enquanto os skodykianos dizem que essa seria Shaua-Megeni, a mãe dos rios e dos lagos.

Independente do que esses povos adoravam ou não, todos se curvavam aos descendentes de Swastif, o deus na terra: os Waqeras. Os Waqeras possuem pele escura e olhos violeta, ditos esses os sinais da centelha divina vinda de Swastif.

Dessa linhagem, vinha o príncipe Sahar, despreocupado e fogoso como só ele poderia ser. Fugia de suas responsabilidades com frequência, bebia e festejava como ninguém e amava vorazmente como nenhum outro. As suas inúmeras amantes comentavam que seu corpo era quente como o sol de verão do deserto, ou como os dias próximos da tempestade. Era como uma chama impetuosa e ardente, que derretia aos que se aproximavam.

Mesmo que aprontasse, ainda encontrava perdão da sua mãe, a Aqaliyt, governante suprema de todo o reino. Nem mesmo seu pai ou seus irmãos e irmãs davam jeito nele, e mesmo que quisessem, não conseguiam. O brilho do seu olhar e o calor do seu coração derretiam e carbonizavam a vontade daqueles que o confrontavam.

Sahar gostava da companhia de Nassiya, sua irmã, filha de sua mãe com um de seus maridos. Desde pequeno, Sahar corria atrás de Nassiya, na esperança de conquistar seu coração. Era uma moça encantadora, culta e gentil, delicada como uma pétala de rosa. A visão dela revigorava seu espírito.

Nassiya também o olhava secretamente. Logo se tornaram amigos e confidentes. Sahar revelava a Nassiya segredos que não revelava a mais ninguém. Ela nem sabe mais quantas vezes teve de conter o riso nas vezes em que seu irmão era repreendido por sua mãe. Ele era terrível.

Ele gostava de compartilhar com ela suas histórias de cunho sexual, sempre deixando escapar os detalhes mais sórdidos, o que a deixava sempre espantada, mas sempre atenta.

Uma noite, Sahar resolveu fugir para viver novas aventuras. Esquivou-se dos guardas, seduziu algumas camareiras, escalou paredes e chegou ao quarto de Nassiya. Ela e seu irmão saíram de fininho pela noite e fugiram para uma cidade próxima. Lá, ele inventou de se disfarçar, vivendo como um misterioso comerciante awaquense chamado Eqrab. Nassiya se vestia como sua esposa, chamada Shanusse, e ali passaram um tempo. A rainha os procurou em todos os cantos, mas não os encontrava em lugar nenhum. Quando os achou, descobriu que a princesa Nassiya carregava uma criança no ventre. A Aqalit brigou com seu filho e lhe entregou como servo de seu tio, irmão dela, até que ela o chamasse de volta.

Seu tio o colocou para trabalhar em sua casa e lhe servir diretamente. Servia o vinho, limpava-lhe a boca, trazia seus perfumes e lavava suas costas. Não demorou muito para que seu tio se deitasse sobre ele quando se cansava de suas esposas. E assim Sahar, agora sem nome, passou a maior parte do seu tempo de servidão, até que resolveu fugir.

Conseguindo a ajuda de uma das esposas de seu tio, que lhe ajudou em troca de levá-la junto com ele, Sahar conseguiu uma barca que lhe levaria até o palácio da rainha. Chegando lá novamente disfarçado de comerciante, Sahar usou de feitiços que a moça havia lhe arrumado antes de sair da casa do seu marido, se infiltra no palácio e encontra Nassiya e sua filha, Zani. Sahar não se demorou muito e logo fugiu pelo mar para uma ilha distante.

Na ilha, Sahar, novamente como Eqrab, conhece um feiticeiro que lhe diz querer ensinar a fazer poções e amuletos diversos. Eqrab resolve aprender magia nas horas vagas, aprendendo também a negociar com todo tipo de pessoa com sua lábia e seu poder de sedução. Suas poções e seus feitiços atraem ainda mais poder e riquezas, usando disso para manipular os nobres dos reinos e conceder desejos e poções em troca de ouro. Parte desse ouro foi entregue para o feiticeiro, que sumiu um dia e não foi mais visto desde então.

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